quarta-feira, 28 de setembro de 2011

INTERVALO .

                                                                                                                                                                     










Um café, um amigo, uma prece, uma bênção.
Tudo o que esquenta o coração, alimenta a fé e fortalece a vida.


Cláudia Dornelles



sábado, 17 de setembro de 2011

EM TONS DE OUTONO.


No entardecer da terra,
O sopro do longo outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num sono,
Na lívida solidão.

Soergue as folhas, e pousa
A folha volve e revolve
Esvai-se ainda outra vez.
Mas a folha não repousa
E o vento lívido volve
E expira na lividez.
...
Fernando Pessoa

sábado, 10 de setembro de 2011

FLORES

Entre mim e a vida há
uma ponte partida...
Só os meus sonhos passam
por ela...
Às vezes na aragem vêm de
outra margem
Aromas a uma realidade bela;
Mas só sonhando atravesso o brando
Rio e me encontro a viver e crer...
Se olho bem, vejo - pobre desejo! -
Partida a ponte para Viver...
E então memoro num choro
Uma vida antiga que nunca tive
Em que era inteira a ponte inteira...
E eu podia ir para onde se vive
E então me invade uma saudade
Dum misterioso passado meu
Em que houvesse tido um
outro sentido
Que me falta pra ser, não sei como...EU..

Fernando Pessoa

 

sábado, 27 de agosto de 2011

POR UMA PAPOILA!


Não a façam sofrer.
Não olhem a nudez da sua cor.
Se a quiserem ver
Adivinhem de longe o seu pudor.
Olhos nos olhos, não:
Cora, descora, agita-se de medo,
E é todo o desespero e a solidão
De ter na própria vida o seu degredo.
É uma donzela que não quer casar.
Veio ao mundo viver
A beleza gratuita de passar
Sem nenhuma paixão a conhecer.

Miguel Torga

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

COM MÚSICA

Entrei no Café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...

A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
- a concebê-las.

Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.

E agora aqui estou a ouvir
a melodia sem contorno
deste acaso de existir
- onde só procuro a Beleza para me iludir
dum destino.
José Gomes Ferreira 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

CINCO JARROS BRANCOS.

                                                     
                                                    
Quero-te de branco,
ou antes, modelada
nas roupas que cosesses
das bonecas, nos saltos,
nos baloiços, nos degraus
de uma porta qualquer donde saísses.
Quero-te de branco e intocada,
carregada porém dos anos buliçosos
e das vidas ausentes.
De branco, meu amor,
e de tão branco
que me desses o mundo em luz de sol.

Pedro Tamen


,

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

POTE,JARRA E FRUTOS







Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

Eugénio de Andrade




quarta-feira, 27 de julho de 2011

RAMO DE FLORES.


O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza...
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. "Você o tratava mal, agora está arrependido?" "Não, respondeu, estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 21 de julho de 2011

TULIPAS MESCLADAS.










As tulipas invadem meus olhos com
Cores fortes e surpreendentes
Linda flor que à brisa se entrega
Em uma dança suave por conta do vento,
Vento esse que espalha o cheiro
no ritmo da dança da Vida.

Beatriz Shaina

sexta-feira, 15 de julho de 2011

TRAÇOS E COR.






Quisera eu ser poeta
Quisera eu ser pintor
Escrever telas e pintar poemas
Escrever, pintar, pintar, escrever
A humanidade com muita cor

Do site: Luso-Poemas


segunda-feira, 11 de julho de 2011

ANTÚRIO VERMELHO


À sua passagem a noite é vermelha. 
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.
Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.
Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.
Sophia de Mello Andersen          

segunda-feira, 4 de julho de 2011

JARRA COM HORTENSES







Eu gostaria de passar o resto dos meus dias com alguém que
Não precise de mim para nada, mas que me queira para tudo.

Mario Benedetti