quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

NATAL, TEMPO DE TERNURA E ESPERANÇA.


Que teus olhos, Menino, ensinem largueza e altura aos meus olhos
Que teus olhos curem os meus
da fadiga e dos seus filtros
Que teus olhos desimpeçam a visão
fragmentária, parcial e indecisa
Que teus olhos devolvam aos meus olhos
o vento azul da viagem e a sua alegria
Devolvam o real como anel aberto
em vez dos círculos obsidiantes e fechados
Devolvam o aberto como imagem
e programa
Que teus olhos, Menino, ensinem aos meus
o seu natal


José Tolentino Mendonça

sábado, 12 de dezembro de 2020

TRÊS ANOS!


Criança da vida
Que enche a casa de alegria.
Criança que vive,
Que pula, que brinca,
Criança que inventa.
Frágil, inocente e pequena,
Pequeno anjo, que ensina a amar.
Pequeno anjo que ensina a perdoar,
Que contagia e nos faz sonhar.

Pablo Gabrie Ribeiro Danielli




sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

GUITARRA, TOCA BEM ALTO!

Volta a olhar o tempo com inocência
como uma tarefa que as crianças
sabem melhor do que tu

Aprende a buscar a sabedoria
como quem constrói uma ponte
quando seria mais fácil a distância

Aprende a elogiar a vida
que é sempre a oportunidade mais bela
...
Aprende a agradecer o amor
que te esvazia as mãos
e ao mesmo tempo as deixa iluminadas

Acende no centro de ti uma prece
mesmo se o lume que trazes
te parece anmeaçado ou imperfeito
  José Tolentino Mendonça  

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

REZAR O VAZIO.

 

Ensina-nos, Senhor, a rezar este vazio.

O vazio transportado por um medo que não conhecíamos e que parece agora um inquilino da nossa alma.
O vazio dos espaços em isolamento.
O vazio da vida que se faz sentir como suspensa.
O vazio das horas que quem está na solidão conta de maneira diferente.
O vazio das incertezas que se acumulam, e das quais ainda não falámos.
O vazio dos olhos daqueles que veem sofrer e os olhos dos muitos que sofrem sem que nós os vejamos.
O vazio de tudo aquilo que, de um instante para o outro, é adiado.
O vazio daquela mulher idosa que passa o dia inteiro com o rosto contra o vidro da janela.
O vazio do refugiado que vê a sua esperança negada por um carimbo.
O vazio do jovem diante de um futuro que escapa cada vez mais, como um pensamento distante.
O vazio que nos chega como um aviso de despejo da vida autêntica.
O vazio dos encontros e das conversas de que agora precisaríamos.
O vazio que os amigos notam.
O vazio dos risos.
O vazio de todos os abraços não dados.
O vazio da proximidade proibida.
O vazio no qual não te vemos.
José Tolentino Mendonça