Procura a maravilha. Onde um beijo sabe a barcos e bruma. No brilho redondo e jovem dos joelhos. Na noite inclinada de melancolia. Procura. Procura a maravilha.
Para atravessar contigo o deserto do mundo Para enfrentarmos juntos o terror da morte Para ver a verdade, para perder o medo Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo Minha rápida noite meu silêncio Minha pérola redonda e seu oriente Meu espelho minha vida minha imagem E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro Sem os espelhos vi que estava nua E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste E aprendi a viver em pleno vento
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer Porque eu sou do tamanho do que vejo E não, do tamanho da minha altura... Nas cidades a vida é mais pequena que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu, Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar, E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Vamos pulsar a vida Expulsar e por de partida Qualquer forma de desamor Some no abraço o laço acolhedor É preciso amar É preciso atar No olhar, a cumplicidade Chegar mais na felicidade Como quem chega Para alguma parte E sempre rega O sonho em arte A vida em entrega.
No mistério do sem-fim equilibra-se um planeta. E, no planeta, um jardim, e, no jardim, um canteiro; no canteiro uma violeta, e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim, a asa de uma borboleta
Até a lavar-se, o gato é airoso. Tudo, mas tudo, no gato tem graça. Ele é atrevido e ardiloso e adora uma boa pirraça. Dizer-se que um gato é de raça não é muito mais que um bom pleonasmo, porque, enfim, qual raça, qual cabaça, qualquer gato é sábio como Erasmo! O gato sabe tudo ou quase tudo, mas o “quase” é só pra ser modesto, porque foi à custa de muito estudo e de manejar muito palimpsesto, que o gato se fez grande Doutor, sem favor, com distinção e louvor.
Em parte porque o espaço que nos circunda está cheio de chamadas, de perigos e de júbilos; o ser humano, longe do que se pensa, é o que menos se nota no mundo.
Um homem tem que viver, e tu vê lá não te fiques - um homem tem que viver com um pé na Primavera. Tem que viver cheio de luz. Saber um dia com uma saudade burra dizer adeus a tudo isto. Um homem (um barco) até ao fim da noite cantará coisas, irá nadando por dentro da sua alegria.