terça-feira, 23 de agosto de 2022

A BREVIDADE DA VIDA












A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.

Mary Cholmondeley

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

QUE BEM TE FICA!


 Fica-te tão bem o dia que trazes. Onde é que o arranjaste?
- Fui eu que fiz. Já me aborreciam os dias sempre iguais, sempre a mesma coisa, e resolvi arriscar um toque personalizado.
- E como fizeste?
- Aproveitei coisas que tinha e a que voltei a dar uso. Subi as bainhas da manhã para deixar entrar mais claridade e bordei uns pontos de exclamação nos bolsos para ter sempre à mão maneira de me espantar com a beleza da vida. Descosi velhos hábitos e teci algumas considerações importantes, como a de apanhar as malhas caídas dos dias com força de vontade e coragem. Depois, junto à fímbria da noite, deixei abertos uns rasgos de imaginação e prendi os sonhos com colchetes de luz à esperança num mundo melhor.

Mia Couto 

terça-feira, 19 de julho de 2022

DE QUE SÃO FEITOS OS DIAS?




De que são feitos os dias?
De pequenos desejos, vagarosas saudades, silenciosas lembranças.

Cecília Meireles


segunda-feira, 4 de julho de 2022

O QUE BUSCAMOS NOS ENCONTRÁ.









Dizem que tudo o que buscamos, também nos busca e, se ficamos quietos, o que buscamos nos encontrará.
É algo que leva muito tempo esperando por nós.
Enquanto não chegue, nada faças. Descansa.
Já tu verás o que acontece enquanto isto.

Clarissa Pinkola

segunda-feira, 20 de junho de 2022

O JARDIM.

O jardim está brilhante e florido.Sobre as ervas, entre as folhagens,
O vento passa, sonhador e distraído,
Peregrino de mil romagens.
É Maio ácido e multicolor,
Devorado pelo próprio ardor,
Que nesta clara tarde de cristal
Avança pelos caminhos
Até os fantásticos desalinhos
Do meu bem e do meu mal.
E no seu bailado levada
Pelo jardim deliro e divago,
Ora espreitando debruçada
Os jardins do fundo do lago,
Ora perdendo o meu olhar
Na indizível verdura
Das folhas novas e tenras
Onde eu queria saciar
A minha longa sede de frescura.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 2 de junho de 2022

UM POEMA.






Um poema
quase sem palavras.
Um esquema
de indefinidos traços.
O ecoar de um som
talvez nunca vibrado.
Um retrato
feito com o nada disto,
com tudo isto.

 Saúl Dias 

terça-feira, 17 de maio de 2022

PAPOILAS E UTOPIA.


 
                                                     

A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

Fernando Birri